pandora forjada no barro tal qual eva
pandora sob o céu conduzindo um vaso ou uma caixa?
o que ela conduz é leve ou pesado?
o mal está aprisionado no vaso ou na caixa?
pandora me destina um sorriso e ensaia uma traquinagem
compreendo que o que está nos seus domínios não é bom
e se a bela dama vacilar não ficará pedra sobre pedra.
segunda-feira, 19 de maio de 2025
Consolo (in)certo
as mães vão embora
às vezes avisam, as vezes é intenso o silêncio
as mães vão embora de dia ou de noite
nenhum rei do mundo pode mover céus e terra
para que elas fiquem
as mães vão embora
e o filho sendo um grão de milho ou uma árvore frondosa
fica a lamentar entre os mortais
reza, choro, vela acesa, joelho dobrado
não conseguem trazê-la de volta
resta ao enlutado o consolo divino.
Ainda sexagenário
60 + 1
uma nova contagem
um novo ciclo
uma janela que se abre ao lado de uma porta
duas possibilidades entre incertezas
minha certeza é que tudo acaba
num piscar de olhos.
segunda-feira, 7 de abril de 2025
Sempre no presente
as feridas da alma não saram
fazem uma pausa no grito
o clamor se rende ao silêncio
ordenado pelo tempo
uma fala
uma ideia
um gesto
uma lembrança
uma insinuação…
finda o pacto
e o peito abre-se outra vez bem mais feroz
revelando uma dor acumulada.
fazem uma pausa no grito
o clamor se rende ao silêncio
ordenado pelo tempo
uma fala
uma ideia
um gesto
uma lembrança
uma insinuação…
finda o pacto
e o peito abre-se outra vez bem mais feroz
revelando uma dor acumulada.
Novo poema
na fia
eu espero
na fila
eu fico exausto
na fila
eu exercito as panturrilhas
na fila
eu rezo
na fila
eu busco a poesia
na fila
eu a encontro latejando em uma mulher
na fila
eu estou a parir um novo poema.
eu espero
na fila
eu fico exausto
na fila
eu exercito as panturrilhas
na fila
eu rezo
na fila
eu busco a poesia
na fila
eu a encontro latejando em uma mulher
na fila
eu estou a parir um novo poema.
Enquanto vivo entre os mortais
vou nem sempre de mãos dadas
se alguém me destina a mão, agarro-a
se não tenho amparo ergo-me e me vou
a solidão não me assusta
tenho-a junto a mim desde minha geração no ventre
companheira na vida e além da vida?
conto comigo enquanto vivo
enquanto morro
até a última respiração.
se alguém me destina a mão, agarro-a
se não tenho amparo ergo-me e me vou
a solidão não me assusta
tenho-a junto a mim desde minha geração no ventre
companheira na vida e além da vida?
conto comigo enquanto vivo
enquanto morro
até a última respiração.
sábado, 15 de março de 2025
Revelação vespertina
Affonso Romano de Sant'anna morreu e eu também
dormi demais, pouco vivi
li sua poesia
afaguei seus livros na estante
pesou sobre mim a tristeza
Affonso Romano de Sant'anna morreu
e eu também morri ao acordar com a voz do meu filho
com a notícia nos lábios. (04\03\25)
Sempre presente
as feridas da alma não saram
fazem uma pausa no grito
o clamor se rende ao silêncio
ordenado pelo tempo
uma fala
uma ideia
um gesto
uma lembrança
uma insinuação…
finda o pacto
e o peito abre-se outra vez bem mais feroz
revelando uma dor acumulada.
Novo poema
Na fia
eu espero
na fila
eu fico exausto
na fila
eu exercito as panturrilhas
na fila
eu rezo
na fila
eu busco a poesia
na fila
eu a encontro latejando em uma mulher
na fila
eu estou a parir um novo poema.
sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025
Poema vespertino
indago se a poesia está bem aqui
perto do que eu vejo e sinto
diante de ti silencio minhas perguntas
és a poesia que eu procuro
afirmo para mim mesmo
fico a pensar nos teus olhos grandes
que não me veem. buscando em ti
versos para um poema vespertino.
perto do que eu vejo e sinto
diante de ti silencio minhas perguntas
és a poesia que eu procuro
afirmo para mim mesmo
fico a pensar nos teus olhos grandes
que não me veem. buscando em ti
versos para um poema vespertino.
No cotidiano dos mortais
o homem bota gente em cima da terra
o homem bota gente embaixo da terra
cruzes se avolumando nas laterais das estradas
e nos cemitérios
o dia vai, vem a noite
vem um novo calendário e um novo ano
e o tempo não fica exausto de passar
as imagens e as cenas se repetem
no meu cotidiano de mortal
seria essa a missão do homem
até a sua última respiração?
o homem bota gente embaixo da terra
cruzes se avolumando nas laterais das estradas
e nos cemitérios
o dia vai, vem a noite
vem um novo calendário e um novo ano
e o tempo não fica exausto de passar
as imagens e as cenas se repetem
no meu cotidiano de mortal
seria essa a missão do homem
até a sua última respiração?
Enquanto respiramos
do nascer ao pôr do sol
a morte nos espia de cócoras
as vezes masca fumo
as vezes olha o pulso onde o tempo passa veloz
entre os ponteiros de um relógio velho
estamos sob o seu olhar
nas nossas idas e vindas tecendo ilusões
enquanto respiramos.
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